Uma recém-nascida espera por cirurgia cardíaca urgente e acaba falecendo aos 42 dias
Uma triste história abala a todos que acompanham o sistema de saúde pública no Brasil. Ayla, uma recém-nascida com uma cardiopatia congênita, perdeu sua vida aos 42 dias de idade após passar todo esse período aguardando uma cirurgia cardíaca considerada urgente. Sua família relata uma difícil espera por uma vaga na Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde (Cross), que infelizmente nunca chegou.
Segundo a avó da pequena Ayla, os médicos do Hospital Geral do Grajaú, na Zona Sul de São Paulo, deram esperança à família, informando que o caso da bebê era difícil, mas poderia ser corrigido com um procedimento cirúrgico. No entanto, eles foram informados que a transferência para outro hospital era necessária para a realização da cirurgia de emergência e que deveriam aguardar na fila da Cross.
A mãe de Ayla, Larissa Souza, lamentou a situação dizendo: "Eu não consegui fazer tudo sozinha. Via ela sofrendo, eu ficava pior ainda, e agora que ela está assim, eu não tenho a companhia dela. Ela ia trazer muita alegria, mas...". A família torceu até o último minuto por um desfecho diferente, porém, infelizmente, o desfecho foi trágico.
Outro caso semelhante de espera por cirurgia cardíaca
O bebê Ravi também passou por uma situação semelhante. Ele deu entrada no Hospital de Parelheiros, também na Zona Sul de São Paulo, em 23 de agosto, sendo diagnosticado com um problema congênito no coração. Ravi acabou falecendo em 6 de setembro enquanto aguardava uma cirurgia de urgência. São histórias como essas que nos trazem a reflexão sobre a eficiência do sistema de saúde.
De acordo com Domingos Napoli, gerente médico da Cross, os casos de emergência não entram em fila, mas são encaminhados diretamente para a cirurgia assim que um centro médico estiver disponível, desde que o recém-nascido tenha as condições ideais para o procedimento. No caso da Ayla, foi explicado que a pequena nasceu com um baixo peso, exigindo um possível ganho de peso para que a cirurgia fosse realizada. Ele ainda ressaltou que existem crianças aguardando no sistema há mais de 20 dias.
A família de Ayla, ao tomar conhecimento dessas informações, rebateu as declarações de Domingos Napoli, expressando sua tristeza e revolta, afirmando que a pequena não precisaria ter passado por tanto sofrimento e que mais poderia ter sido feito por ela.
Posicionamentos das secretarias de Saúde
Em relação ao caso de Ravi, a Secretaria Estadual da Saúde afirmou que o paciente não possuía condições clínicas para ser transferido e entrou na fila da Cross em 29 de agosto. Já a Secretaria Municipal da Saúde alegou que prestou toda a assistência à família e destacou que o quadro de saúde do paciente era complexo.
A fila no sistema Cross
No mês de junho, uma matéria do SP2 revelou que quase 200 mil pessoas estavam na fila por cirurgias eletivas na rede pública municipal de São Paulo, ou seja, procedimentos que não são urgentes, de acordo com a regulação do Cross. Na ocasião, o secretário de Saúde da capital, Luiz Carlos Zamarco, reivindicou a criação de uma fila única para o Cross em todo o sistema de saúde do estado.
Três meses depois, o Palácio dos Bandeirantes promulgou uma lei da Assembleia Legislativa que obriga a divulgação da ordem de espera de pacientes que aguardam a realização de procedimentos oferecidos pela Cross e unidades do SUS. Entretanto, essa lei somente entrará em vigor em janeiro de 2024.
Conclusão
A histórias como as de Ayla e Ravi nos alertam para a gravidade do sistema de saúde no Brasil, evidenciando a falta de estrutura, recursos e agilidade para atender a demanda de pacientes que necessitam de cirurgias urgentes. Mesmo com a disponibilidade de hospitais especializados e profissionais qualificados, a burocracia e falta de comunicação acabam custando vidas.
É fundamental que haja uma revisão nos processos de regulação da oferta de serviços de saúde, buscando uma maior eficiência e celeridade no atendimento aos pacientes. Além disso, é necessário investir em melhorias estruturais e ampliação de recursos para garantir que casos como o de Ayla e Ravi não se repitam, afinal, cada vida é valiosa e merece toda a atenção e cuidado necessários.
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